ENTREVISTA NO SITE www.desabafodemonalisa.com PARA TATIANA

Olá amigos, estou postando uma entrevista que dei para Tatiana que é brasileira mas  mora na China a 03 anos em razão do trabalho de seu esposo,  tem 33 anos e é mãe de Alícia que tem 01 ano e 01 mês, era advogada no Brasil e está escrevendo um livro sobre a vida de sua filha que nasceu prematura, com baixo peso,  e teve que ficar internada por mais de 30 dias sem receber nenhuma visita. Tatiana lançou um site maravilhoso,  www.desabafodemonalisa.com, que pretende trazer sempre entrevistas, relatos, comentários e desabafos de mulheres comuns sobre diversos assuntos/temas e para estrear já tem vários desabafos muito emocionantes, e um deles é o meu que se chama Mãe Triste. Vou postar aqui minha entrevista via email com a Tatiana, mas o site dela vale a pena ser visitado. ENTREVISTA COM TATIANA: 
  

a) Me faça um breve relato sobre a gravidez e o nascimento do seu anjo Gabriel (foi ou nao planejado, a gestação foi tudo bem? o parto tb?) 

Me casei com 29 anos e quis ter filho desde o ínicio porque tinha uma mãe com câncer que era louca por um neto e eu queria dar esta alegria para ela, mas só engravidei 01 ano e meio depois de casada, e que alegria saber que eu estava grávida, com com 02 meses depois minha mãe faleceu, 28 dias depois meu sogro faleceu, nosso cachorrinho de estimação também morreu. Minha gravidez foi muito difícil, pois minha mãe era tudo para mim, grande amiga e uma mãe espetacular. Eu chorava muito sem sua presença. Tive que fazer cesaréa, pois minha pressão estava muito alta. Tomei 04 anestesias para pegar, pois estava muito ansiosa. Ele nasceu lindo, mas uma semana depois corri com ele para o Hospital, pois ele gritava de fome e eu não sabia que não tinha leite suficiente. Ele teve alergia a leite de vaca e precisava tomar uma leite de gosto horrível, mas graças a Deus a alergia foi embora. Minha gestação foi muito difícil mesmo, pois eu tive muitas crises de choro pela minha mãe, mas sempre pensei assim: Deus tirou minha mãe, mas me deu meu filho para eu aguentar tanta dor e saudade.      

b) Como se deu a morte do Gabriel?

Meu filho sempre foi saudável, amava jogar bola e nunca ficava doente. Em um sábado à tarde, sentiu dor de cabeça jogando bola e parou de jogar. Quando eu cheguei em casa, ele estava deitado no sofá todo sujo dizendo que estava com dor de cabeça, e eu ainda brinquei com ele dizendo que ele não ia comer chocolate que eu tinha trazido, pois íamos fazer o amigo secreto da páscoa e naquele dia comprei muitos ovos da páscoa. Mandei ele correr para o banheiro tomar banho, achei que ele estava fazendo manha, ele foi, comeu chocolate e saiu para a casa do vizinho com um amiguinho, mas voltou logo depois dizendo que a dor de cabeça não tinha passado, aí na mesma hora levamos ele no médico, e ela disse que era uma enxaqueca e se não passasse com 03 dias era para fazer uma tumografia. Voltamos para casa naquela noite, mas ele acordou várias vezes com dor e no meio da noite começei a ligar para encontrar uma clínica para fazer o exame de urgência, eu sabia que tinha alguma coisa de muito errado. Encontrei uma clínica e de manhã já estava na clínica com uma amiga nossa que era médica, e ela mesma fez o pedido do exame e entrou com ele na sala para fazer o exame. Quando ele saiu da sala, não lembrava que tinha feito o exame e ela nos disse que tínhamos que interna-lo imediatamente, pois tinha um tumor tão grande que desviou a linha do cérebro. Ele foi internado e no mesmo dia um neurologista examinou os exames e nos disse que iria operá-lo no outro dia, pois era domingo e não tinha nenhum médico anestesista disponível naquele dia e ele iria precisar fazer outro exame com mais detalhes para ver por onde eles iriam entrar no cérebro dele. Mas no domingo mesmo ele já começou a passar mal, caiu no banheiro, começou a entortar a boca e naquela noite teve várias convulsões e quando amanheceu percebi que ele não estava respirando, começei a gritar e pedi para chamar o médico, e que absurdo: disseram que só podia chamar às 7:00 horas da manhã, começei a gritar no corredor e vieram vários enfermeiros com aquela máquina de fazer bater o coração. Na mesma hora ele foi na Uti e ficou por lá 04 dias. Os sinais vitais dele eram baixos e o médico disse que ele tinha 5% de chance de viver. Entrava sempre na UTI e dizia palavras de amor em seu ouvido, ele estava lindo, procurei UTI móvel para levá-lo para São Paulo, encontrei um médico que fazia cirurgia com a criança em coma, mas mandei os exames para ele por email, e ele não aceitou operar meu filho. E depois de 04 dias, resolvi entregar meu filho para Nossa Senhora se assim fosse a vontadde Dela e de meu filho. Entrei na UTI em uma sexta feira de manhã, coloquei uma medalhinha de Nossa Senhora em sua mão e disse: Vai meu filho, se você quiser ir, eu prometo que tentarei ficar bem por você, eu queria que você voltasse, mas que seja feita a vontade de Deus e a sua também. Eu prometo a você que tentarei transformar a dor em amor.  Eu te amo demais. E assim 01 hora depois meu filho partiu.  

c) Qual foi o periodo mais dificil dessa trajetoria?

Dia 27 de março deste ano  de 2012 fez 03 anos. No primeiro ano  tudo é mais difícil. Todas as datas festivas gostaríamos de pular. Foram muitas crises de choro. Uma espada que transpassa o coração todos os dias e quando vemos nosso filhinho indo embora, nossa alma é enterrada junto. Nós temos vontade de morrer também e nos perguntamos muito o porque do acontecido. Uma vez , em um primeiro passeio por uma praia que íamos sempre juntos, eu senti tanta dor que quando vi, estava entrando na água de roupa e óculos de sol e já estava com a água pela boca, quando lembrei que tinha 02 cachorrinhos nossos que meu filho amava muito e que precisavam de mim, aí voltei e nunca mais tentei acabar com minha vida.

d) Como ficou sua relaçao com Deus?

No começo, muita tristeza e revolta, achava que Deus estava me castigando pelos meus pecados, mas como sempre fui muito católica e sempre tive muita fé, me lembrava da promessa que tinha feito para meu menino. Fazia terço todos os meses em casa, na data que fazia um mês que ele tinha partido, e  no primeiro ano fiz a missa que queria fazer do meu jeito, cheia de homenagens, onde cantei para ele. Eu andava sempre com camiseta dele e ia muito no cemitério e preparei a sepultura dele como a de um anjo com uma gruta de formato de uma Bíblia onde tem muitas coisas dele,  e tem a imagem do Anjo Gabriel e de Nossa Senhora. Me apeguei muita a Deus e me apego até hoje para suportar tanta saudade e dor da perda de meu anjo. Hoje minha fé aumentou muito e minha espiritualidade cresceu porque acho que temos dois caminhos: ou nos revoltamos ou tiramos do sofrimento um grande aprendizado. E na morte é onde nossa fé é mais testada. Acredito que existe uma vida eterna e reencontrarei meu filho com certeza.

e) Há algum lado positivo na partida do Gabriel?

Depois que o Biel partiu, começei a escrever em um blog tudo o que estava passando, e depois de um ano escrevendo tive um sonho que eu estava em uma sala falando para muitas pessoas e sonhei com a capa de um livro com a foto de meu filho. Achei que foi um sinal e encontrei uma editora que se  interessou em transformar o  blog em um livro, e assim aconteceu. Meu blog se transformou em um livro chamado: Diário da Mãe de um Anjo. Fiz 03 lançamentos em cidades diferentes e com a renda já ajudei muitas instituições financeiras. Nunca fiquei com o lucro do livro, foi gratificante ver tantas crianças sendo ajudadas com a renda do livro. Até hoje o blog é muito visitado e sou fiel a ele, muitas mães já se levantaram depois de ler o livro e algumas mensagens do blog. Também aconteceu outra coisa: Há 10 anos atrás tive câncer de mama, e depois que o Biel partiu, 02 anos depois o câncer voltou nos ossos, e faz 09 meses que luto pela minha vida e graças a Deus estou bem melhor. Mas quem pediu isto foi eu mesma, quando pedia para morrer. Deus apenas mandou eu fazer uma escolha: morrer ou viver, e eu escolhi viver, pois quero dar orgulho para meu filho e no nosso reencontro ele saber que lutei para estar com ele no momento certo. 

f) Há algum arrependimento ?

Sempre temos algum arrependimento por alguma coisa, e um que tenho é que podia ter beijado mais, abraçado mais, e eu era muito rígida nos estudos com ele, falava alto com ele às vezes, podia ter sido mais carinhosa muitas vezes, mas curti muito meu filho, ele dormiu comigo durante os 12 anos da vida dele, a gente se curtia também, viajávamos juntos e eu era muito presente na escola, nos estudos.

g) Tem outros filhos?

Assim que ele nasceu, logo depois tive cancer de mama e precisei tirar os ovários e útero, não posso mais ter filhos, eu queria na época, mas não pude.

h) De onde vem sua força?

Exclusivamente de Deus, da minha fé, da minha esperança de saber que irei encontrar meu filho um dia, se assim eu for digna para isto. 

i) o que te faz fraquejar?

Quando vejo crianças em festas, em hospitais, em shoppings, eu fico muito mal, nas datas festivas eu também fico mal. Sinto saudades todos os dias. Ainda tenho crises de choro e agora quando vai chegando o dia das mães é mais difícil ainda. Ver as mães abraçando seus filhos, sorrindo para eles, ver crianças beijando suas mães e não termos mais nossos filhinhos perto é muito cruel. Eu fraquejo muitas vezes, mas oro muito e me levanto logo em seguida.

   

j)Muitos preferem não tocar no assunto do luto, ou como se a pessoa nao tivesse existido, ou como se ela nao tivesse morrido? Como é isso pra vc?

Eu acho melhor falar, chorar, viver o luto, mas ele não pode se tornar crônico, deve ser vivido sim, eu li muitos livros sobre o luto e sobre perda de filhos, assisto muitos filmes de lições de coragem e força, escrevo muito sobre tudo o que sinto. Não acho bom viver como se o filho ainda existisse, viver fora da realidade, ou viver apenas para o filho que morreu, esqueçendo dos outros que ficaram. Tem pais que pensam que tentar ser feliz novamente, o que é quase impossível, mas tentar pelo menos, é uma traição com o filho que morreu, mas é ao contrário, se entregar ao desespero e revolta é uma responsabilidade muito grande para nossos anjos, eles nos querem ver felizes aqui na terra. Precisamos viver por eles, comer por eles, sorrir por eles. Com certeza eles não gostam de nos ver tristes e desesperados.

k) Vc é/foi uma boa mãe? o que é ser boa mãe?

Só quem poderia dizer isto era o meu filhinho querido, mas na medida do possível eu tentei ser uma boa mãe. Eu nunca deixei de ver uma festinha dele no colégio, um jogo, um dever de casa, participava ativamente da vida dele, conheçia todos os seus professores e tentava desde muito pequeno dar lições para ele de solidariedade e humildade com todas as pessoas. Fazia festas para crianças carentes e ele entrava no fim da fila para receber os mesmos presentes que eles e comer da mesma comida que eles recebiam e ele brincava com eles e adorava isto. Teve um depoimento que recebi entre vários  depois que ele se foi, que  eu percebi que tinha sido uma boa mãe, quando descobri que no velório dele um homem alcoolizado que tinha aparecido por lá e levou flores pegadas na rua, e eu deixei ele se aproximar e colocar as flores em seu caixão e ficar um pouco perto dele, descobri depois que este homem chorava muito  lá fora do colégio onde ele foi velado, e quando um amigo nosso chegou perto dele e perguntou porque ele chorava tanto, ele disse que o único amigo que ele tinha no colégio tinha ido embora, pois todos os dias ele comprava um bombom para ele e falava com ele. Ser uma boa mãe é participar da vida de seu filho, dialogar com eles, ser carinhosa, falar palavras de força e incentivo, não achar que seu filho tem que ser melhor em tudo, mas ensinar humildade para ele, e a nunca desistir dos seus sonhos, ensiná-lo  a fazer o seu melhor.

i) sER MÃE É.....?

Amar, amar, amar, e para mim a maior prova de amor que dei para meu filho foi ter tido a coragem de entregá-lo a Nossa Senhora, a mãe dele no céu. Ser mãe é a experiência mais linda que existe neste mundo, é o maior amor que uma mulher  pode sentir nesta vida terrena. O amor é tão grande que ultrapassa o tempo e espaço, é um amor além da morte, nunca a morte vai separar o amor de uma mãe por seu filho, jamais. Ser mãe é o dom mais maravilhoso que Deus deu para as mulheres.

Tem algo que queira dizer que não foi perguntado?

Eu sofri demais com a morte de minha mãe, principalmente porque o sonho dela era conhecer o neto, e hoje quem cuida dele para mim é ela. Neste dia das mães sofro com a falta dela e com a falta de meu filho, mas quero desejar parabéns a todas as mães do mundo inteiro. Curtam muito seus filhos e para aquelas que perderam seus filhos, saibam que nos encontraremos um dia e nunca mais iremos nos separar.