DOIS PASSOS PARA TRÁS- A TRISTEZA, DÚVIDA E REVOLTA FOI INEVITÁVEL NESTA QUINTA-FEIRA PASSADA

Quando perdemos um filho, precisamos reaprender a viver, e assim, dia a dia damos um passinho de cada vez, mas não somos fortes o tempo todo, na minha pescaria de quinta-feira para São Caetano com meu pai, irmã e alguns amigos, tive uma recaída. Qualquer coisa que lembre muito a figura do filho perdido pode desencadear uma grande crise, e foi isto que aconteceu na quinta-feira passada agora. Do lado de nosso barco, tinha outro barco que tinha um menino da idade de meu filhinho, cabeçudinho igual a ele, e bem no momento que chegamos perto deles, ele pegou um grande peixe, a família ficou orgulhosa e foram tirar fotos com ele, imediatamente me veio a mente um filme de todas as pescarias que tive com meu anjo, o dia que ele pegou também um grande peixe e tiramos muitas fotos, quando em outra pescaria ele teve uma dor na barriga e foi carregado nos braços por um amigo para o mangue, depois ele teve outra dor e eu fui junto para o mangue, não conseguia nem andar, cuidei do meu menino, fiz tudo parecer bem normal para ele não ficar envergonhado, estávamos em muita gente neste dia, minha irmã ajudou muito, pulou na água comigo e com ele para ele se lavar, mas fizemos de conta que ninguém no barco sabia o que estava acontecendo, ele ficou tão envergonhado neste dia, me deu uma peninha dele, enfim, nesta última pescaria agora eu estava de óculos de sol, e sem ninguém perceber chorei a pescaria toda, não queria deixar ninguém triste,mas meu coração estava angustiado, briguei com Deus neste dia, a todo momento chorando, olhando para o céu eu perguntava o porque de uma criança tão humilde e especial como ele foi embora, sem ter chance para viver ao nosso lado, nesta pescaria eu peguei o maior peixe, peguei um mero com pouco mais de um quilo, mas eu o soltei por ele ser um peixe em extinção e proibido, e também ele era um bebê, este peixe chega a mais de 400 kg, o soltei para viver na água que é o seu lugar, soltamos todos os peixes pequenos mas fiquei muito triste em ver tantos barcos jogando suas redes e pegando tantos peixes pequenos, não tem fiscalização em São Caetano, e cada dia aumenta mais os redeiros, é uma pena ver isto. Depois da pescaria, quando cheguei em casa, me deu uma grande crise, sentei no chão do banheiro e não conseguia levantar, chorava sem parar, fiquei um tempão chorando no chão, saí do banho e me agarrei com uma almofada com seu lindo rostinho e chorei mais ainda, meu esposo me deu calmante e eu apaguei nesta noite, estou contando isto aqui, para as pessoas saberem que apesar de eu ter muita fé, não é sempre que sou corajosa e forte, também tenho recaída, também tenho dúvidas, me pergunto porque, sou feita de carne e osso, dei dois passos para trás neste dia de tanta dúvida, revolta e tristeza, mas como disse antes, nós que sofremos a perda de um filho, precisamos aprender tudo de novo, a caminhar devagar, um passo de cada vez, e às vezes, damos dois passos para trás, mas chegou um novo dia, e estou caminhando, hoje vou dar mais um passinho, e assim vou caminhando....